Portugal conseguiu dois quartos lugares na última jornada do Campeonato do Mundo de Pista, em Ballerup, Dinamarca. A dupla de madison formada pelos gémeos Ivo e Rui Oliveira e Diogo Narciso, em eliminação, foram os representantes nacionais que ficaram à porta do pódio. Daniela Campos foi 12.ª na corrida por pontos.
O programa da competição fechou com o madison masculino e a dupla portuguesa revelou ambição, distribuindo ataques ao longo de toda a prova de 200 voltas (50 quilómetros). O primeiro ataque de Ivo e Rui Oliveira aconteceu a 165 voltas do final e rendeu cinco pontos de um sprint intermédio, mais vinte da primeira dobragem.
O momento que viria a revelar-se decisivo para as contas finais aconteceu a 85 voltas do desfecho. Alemanha, Bélgica e Dinamarca atacaram. Portugal tentou responder, mas ficou pelo caminho. As três duplas da frente precisaram de vinte voltas para consumar a dobragem, mas, até lá chegarem, aproveitaram para somar pontos nos sprints.
Portugal reentrou nas contas do pódio com uma movimentação a 43 voltas do final, que resultou em mais 25 pontos para a contabilidade nacional. O último quarto da corrida foi muito movimentado, com as seleções que se batiam pelo pódio sempre ao ataque ou a responder aos rivais.
Os portugueses também estiveram na luta pelo pódio até ao derradeiro sprint, no qual não pontuaram por pouco. Contas feitas, Portugal fechou no quarto posto, com 53 pontos. Os alemães Roger Kluge e Tim Torn Teutenberg foram claramente superiores e nem precisaram de envolver-se no último sprint para vencerem, com 76 pontos. Os belgas Lindsay de Vylder e Fabio van den Bossche somaram 60 e ficaram com a medalha de prata. O pódio fechou com os dinamarqueses Niklas Larsen e Michael Morkov, graças aos 59 pontos amealhados.
Antes do madison já Diogo Narciso estivera em evidência. No fecho dos Mundiais de estreia entre a elite, o corredor português conseguiu aquele que, até então, era o melhor resultado de toda a comitiva: quarto lugar na disciplina de eliminação.
Diogo Narciso esteve bem na corrida, mostrando personalidade, confiança e capacidade para sair das situações complicadas e dos sustos, que, em alguns momentos da prova, poderiam tê-lo eliminado precocemente.
Quando o top 5 estava garantido, Diogo Narciso foi vítima de uma movimentação irregular do neerlandês Jan Willem van Schip. O corredor dos Países Baixos fez uma manobra que deixou o português imediatamente fora da prova. Mais tarde, Van Schip viria a ser desqualificado, mas o movimento perigoso que executou impediu Diogo Narciso de discutir as medalhas.
Após a expulsão do neerlandês ficaram em prova três corredores. Tobias Aagaard Hansen deu mais uma medalha de ouro à Dinamarca. Seguiram-se o italiano Elia Viviani e o canadense Dylan Bibic.
Daniela Campos esperou pelo último dia do Mundial para entrar em ação, mas hoje foi a primeira portuguesa a subir à pista, disputando a corrida por pontos. Numa prova que arrancou monótona, sem qualquer ataque nas primeiras 30 das 100 voltas de corrida, Daniela Campos esperou pela segunda metade para mexer com a corrida.
Nas últimas 40 voltas praticamente não houve momentos para respirar, sempre com múltiplos ataques a acontecer. Por isso, 14 das 24 participantes conseguiram dobrar o pelotão. Uma delas foi Daniela Campos. Além dos 20 pontos da volta ganha, a portuguesa somou mais um, num sprint. Acabou a prova com 21 pontos, no 12.º lugar.
Na luta pela medalha de ouro, a narrativa desportiva encaixou no género conto de fadas. A correr em casa e em ano de despedida da carreira, perante o filho bebé na bancada, a dinamarquesa Julie Leth triunfou, com 43 pontos, mais três do que a anterior detentora do título, a belga Lotte Kopecky. Foi a segunda medalha de ouro da dinamarquesa, depois de ontem ter vencido a prova de madison em parceria com Amalie Dideriksen. A irlandesa Lara Gillespie ficou com o bronze, graças aos 39 pontos amealhados nos 25 quilómetros da corrida.
O selecionador nacional de pista, Gabriel Mendes, faz um balanço positivo da participação portuguesa neste Mundial e elogia a entrega dos corredores, exemplificando com a última prova do programa, o madison.
“Considero que fizemos um campeonato do mundo muito bom, com desempenhos muito positivos e na linha do que temos vindo a fazer. Terminámos com uma prova espetacular, com uma entrega… como todos fizeram ao longo deste Campeonato. O Rui e o Ivo deram tudo até final para tentar chegar ao pódio. Até ao fim, mas não foi possível”, reconheceu o responsável técnico.
“Há que continuar a trabalhar para melhorarmos, mas devo realçar a entrega, o esforço, e todo o empenho de todos os atletas em fazer o melhor para representar Portugal de forma digna”, sublinha Gabriel Mendes, que se refere ainda ao estreante Diogo Narciso e à jovem Daniela Campos.
“O Diogo está dentro do trabalho de desenvolvimento que temos feito com os mais jovens. Fez pela primeira vez o Mundial e teve uma estreia muito boa, que demonstrou o trabalho e o desenvolvimento que tem vindo a fazer. Há muito pela frente, mas estou muito satisfeito com o rendimento dele”, assinala.
“A Daniela fez uma boa corrida. Apesar de o resultado absoluto ter sido pior do que no ano passado, melhorou em termos de performance, porque somou mais pontos durante a prova, demonstrando que o trabalho com vista à melhoria de rendimento tem vindo a dar frutos”, conclui Gabriel Mendes.